início do ano – Eis que o começo do ano está ai! Tem férias? Tem sim senhor! Tem trânsito? Tem não senhor! Tem fila nos restaurantes? Tem não senhor! Tem engarrafamento? Tem não senhor! Quem mora em cidade grande tem motivos diários que contribuem para o estresse.

Mas janeiro chega e viver em uma cidade como Belo Horizonte com 2,5 milhões de pessoas, com uma população de 5,9 milhões na região metropolitana, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fica mais leve, digamos. Pelo menos em alguns aspectos.

E com o período de férias escolares, recesso de órgão públicos, gente descansando nas praias, em cidades do interior ou simplesmente evitando sair de casa, a cidade acaba parecendo outra, mesmo que minimamente.

Para tentar quantificar e qualificar este esvaziamento da cidade, o Bhaz foi às ruas ouvir de quem mora ou circula por BH como é circular pela capital mais vazia.

O bhaz foi as ruas ouvir a opinião de quem vive em BH; o trânsito foi o ponto mais bem avaliado
Ainda com olhos de quem está descobrindo a cidade, a analista de crédito Cíntia Emanuele chegou a capital há sete meses e está vivendo o primeiro janeiro aqui. “Eu ando pela cidade achando ela linda. Muita opção de bar, cultura, diversão. Estou achando tudo legal. Apesar de ser capital aqui tem um ar de interior. Eu gosto de andar pela cidade observando. Me falaram que está mais vazia, o que acaba sendo um bom momento para apreciar”, afirma ela enquanto faz o tempo de descanso do trabalho no hipercentro da cidade.

“A cidade fica mais humanizada. Mais vazia e você a percebe melhor. Você percebe melhor as pessoas. Acaba indo para outros locais. A locomoção fica mais fácil, apesar da redução nas linhas de transporte público”, conta o produtor de cinema Jackson Dias, de 40 anos. Morador da região da Pampulha, ele afirma que chega ao Centro mais rápido com a cidade mais vazia.

De acordo com a BHTrans o movimento dentro do perímetro da avenida do Contorno chega a cair 10% no primeiro mês do ano.
Informações da BHTrans confirmam o que muitos percebem na prática. Em janeiro, os ônibus que circulam na capital seguem o horário de férias, o que reduz o número de viagens em 6%. A queda na quantidade de passageiros do transporte coletivo chega a 25%. A BHTrans regista que nesta época também há uma redução de 10% na frota de veículos que circula no perímetro da avenida do Contorno, o que significa menos 50 mil veículos do meio milhão que circula no restante do ano.

Seguindo a redução característica desta época, a queda também é registrada nos usuários de táxis na cidade. O diretor operacional da Coopertáxi, Leonardo Fábio Souza, afirma que o movimento chega a cair entre 20 e 30%. “Em dezembro nós fizemos 99 mil corridas, algo em torno de 2.600 diárias. Para este mês de janeiro a gente deve chegar a 70 mil corridas”. Para ele a queda é normal, já que repartições públicas como o Fórum entram em recesso. O mesmo ocorre com as escolas, as universidades e faculdades.

“Para aproveitar essa redução, muitos taxistas aproveitam o mês também para descansar e se preparar para enfrentar os dias pesados no trânsito da cidade que vem com o final das férias”, comenta. O taxista Mateus Marra percebe nas ruas o “slow motion” do início do ano e acredita na sorte para manter o faturamento. “Na prática o movimento cai. Na praça em janeiro o que conta é ter sorte. Mas é um bom momento para dar uma descansada e dirigir tranquilo”.

A auxiliar administrativa Marisa Ribeiro Silva, 26 anos, fica feliz quando chega janeiro. Usuária do metrô, ela pega o transporte pela manhã na estação Waldomiro Lobo em direção a Estação Central. “Sempre venho em pé, mas nesta época do ano, eu venho sentada . Não fica a muvuca de gente no empurra-empurra. Já que tem que trabalhar, pelo menos fica mais confortável ir e voltar para o trabalho”, comenta.

Marisa está certa e pode comemorar. Durante o período de férias escolares, a Companhia de Trens Urbanos (CBTU-MG) registra uma queda de 15% na demanda. O número de passageiros transportados cai de 200 mil – média geral para dias úteis típicos – para aproximadamente 170 mil/dia, número registrado em janeiro de 2017. Apesar da redução, a CBTU informa que não reduziu o número de trens circulando e nem mesmo o quadro de horários e os intervalos entre viagens, o que possibilita a Marisa fazer sua viagem de ida e volta ao trabalho sentada. Como 10% dos usuários do metrô são estudantes, as composições ficam mais livres para quem utiliza o meio de transporte.

Os reflexos de janeiro também são sentido nos restaurantes de self-services da capital. O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel/MG), Ricardo Rodrigues afirma que há redução nos frequentadores dos locais que servem comida no quilo, o que não acontece nos restaurante temáticos.

“A queda não é homogenia. No caso dos self-service que tem público predominante de trabalhadores a queda pode chegar a 30%, já que muitas empresas estão de recesso ou mesmo os funcionários em férias. No caso dos restaurantes temáticos, como alguns na região da Pampulha, Savassi, tendem a manter o faturamento do ano ou mesmo crescer algo em torno de 20 a 30%”, explica Rodrigues.

A rede de hotéis da cidade é uma das que mais sente a queda de movimentação no inicio do ano.
Após um dezembro movimentado, o comércio é outro setor que começa o ano na marcha lenta. A gerente de uma ótica no Centro da capital, Elissama Gandra Macedo afirma que a queda nas vendas em janeiro é grande. “As pessoas estão preocupadas com material escolar, IPVA. Muitos gastaram no natal e agora é hora de reequilibrar as contas. A primeira semana de janeiro foi pior, e agora ( segunda semana) já está dando uma melhoradinha”, conta ela, que tem expectativa melhores com a proximidade do Carnaval. “Afinal o país só começa a andar mesmo após o Carnaval”, completa.

A economista Ana Paula Bastos da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH) explica que “após o natal, os lojistas aproveitam a época do ano para desovar os estoques por meio das liquidações e receber as novas coleções. Com as liquidações que ajudam a fazer caixa, os lojistas tentam manter um movimento ainda que mínimo com o esvaziamento da cidade, e atrair quem vem para BH passar férias.”Dados do CDL-BH mostram quem em janeiro de 2017 a queda nas vendas chegou a 0,84% se comparado a dezembro de 2016, e 0,98% se comparado a janeiro de 2016. Os dados de 2018 ainda não estão disponíveis.

Com uma vocação para o turismo de negócios, eventos empresariais, a rede de 120 hotéis de Belo Horizonte sofre com janeiro, que chega a ter uma queda na ocupação em torno de 50% em relação a outros meses do ano, segundo o diretor da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis Minas Gerais, Diogo Alves da Paixão. “Pelo histórico de janeiro, é um mês fraco para a hotelaria na cidade. Os hotéis sobrevivem dos eventos corporativos. Nesta época do ano – principalmente a primeira quinzena – as empresas ainda estão fazendo o planejamento e ficamos dependendo mais do turista de lazer do que de negócio”, explica.

A retomada na ocupação historicamente acontece a partir de março/abril, com pico em setembro, outubro e novembro sendo estes os melhores meses do setor, com ocupação chegando a 60% dos mais de 18 mil leitos de hotéis na capital. Como nós últimos anos , o setor tem expectativas para o carnaval. “Claro que estamos acreditando que o carnaval ajuda muito a melhorar o movimento, mas isso é melhor para os hotéis da região Centro-Sul da capital”, completa.

O fato é que com uma leve mudança na cidade pessoas como a fotógrafa Tissiana Cristina, 26 anos, ficam mais satisfeitas.”Eu sou meio anti-social. Eu não gosto de muito movimento, bagunça. Aproveito esta época do ano para ir a Praça da Liberdade para curtir.Gosto de estar em BH nesta época porque posso aproveitar mais a cidade, quando muitos preferem passar as férias fora”, comemora.

O casal, Leandro Souza Santana, 33 anos, e Ana Caroline Oliveira, 18 anos, também busca aproveitar o vai e vem mais lento dessa época para curtir a cidade. Durante a semana, o Bhaz encontrou o casal curtindo uma tarde deitado na grama do Parque Municipal. “É importante tentar conciliar sempre o trabalho com momentos de lazer. Nossa dica é essa: namorar no parque não somente em janeiro, mas em todos os meses do ano, sempre que o sol pintar”, comentam eles.

Na contramão
Se a BHTrans, a cooperativa de táxis, metrô, associações de hotéis e bares e restaurantes registram queda no movimento, o mesmo não pode se dizer do Aeroporto Internacional Tancredo Neves. De acordo com a concessionária BH Airport, que administra o terminal, a capital deve receber quase 2 milhões de passageiros na alta temporada 2017/2018. O que representa uma crescimento de 6% em relação ao mesmo período do ano passado.

fonte: bhaz
Imagem: MAICK HAANDER

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