forumdoc.bh – O Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte (forumdoc.bh) comemora 20 anos de criação com um espírito de resistência ainda maior.

O Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte (forumdoc.bh) comemora 20 anos de criação com um espírito de resistência ainda maior. Sem ter conseguido captar recursos via leis de incentivo e com um patrocínio mais enxuto, o evento estreia nesta quinta-feira com uma mostra a menos do que o planejado inicialmente. No ano passado, somente uma das sessões trouxe cerca de 80 filmes – a mesma média do total de obras que serão exibidas nesta edição.

Fruto do esforço de “várias frentes de amizades”, como diz Carla Italiano, uma das organizadoras do festival, apesar dos pesares foram mantidas as tradicionais Mostra Contemporânea Brasileira e Mostra Contemporânea Internacional, cujo propósito é o de mapear a produção de documentários dos últimos dois anos. Também entraram para o circuito a Mostra Queer e a Câmara e a Sessões Especiais. Gratuito, o forumdoc.bh é uma realização do Coletivo Filmes de Quintal e acontece no Cine Humberto Mauro e no Cine 104 até o dia 27 deste mês.

“O festival diminuiu muito devido à grande dificuldade de levantar aportes. Mas sempre mantivemos o desejo de dar continuidade. Por isso, se não acontecesse, seria desanimador para quem organiza há tantos anos e para o público. Seria muito ruim para o cinema”, desabafa Carla. “É um festival feito na marra, por pessoas que gostam de cinema. Infelizmente, não tivemos como trazer todos os filmes que queríamos”, lamenta, por sua vez, Paulo Maya, antropólogo e professor da Faculdade de Educação da UFMG e coordenador da curadoria e co-fundador do forumdoc.bh.

Caráter formativo

Mesmo com o cenário sinuoso, há de se reconhecer a importância da manutenção do festival. Consecutivamente, é o que mais realizou edições historicamente em Minas Gerais. Além disso, vem sustentando há anos um caráter formativo, por meio não só da exibição de filmes, como, também, da promoção de mesas redondas, seminário e sessões comentadas que debatem a produção das obras, além de lançamento de publicações.

Mais de 600 filmes foram inscritos nesta edição; 21 nacionais e 14 internacionais foram selecionados

“A gente escuta de críticos (de cinema) que o festival foi uma escola de formação de cultura cinematográfica, de vocabulário, de discussões”, pontua Carla. “Viemos com mais de 20 ensaios e os nossos catálogos são sempre referenciais para os cursos (de cinema). Continuamos fazendo um grande investimento de pesquisa”, reforça Maya.

Festival reúne obras indígenas

Uma das marcas do forumdoc.bh é dar visibilidade às produções cinematográficas de autores indígenas. Não por acaso, o brasileiro “Martírio” foi o escolhido para abrir o festival, em sessão comentada com o diretor Vincent Carelli. “Taego Ãwa”, de Marcela Borela e Henrique Borela, e “Grin”, de Roney Freitas e Isael Maxakali, também se destacam dentro da temática.

Segundo Carla Italiano, a ideia é mostrar a “gigantesca injustiça cometida com os índios”. “Existe uma tentativa constante de apagamento dos traços, das raízes culturais e das fronteiras de terras no que diz respeito aos indígenas. É uma luta individualizada e diária”.

Dentro da mostra internacional, Carla chama a atenção para o longa “Wake”, de John Gianvito, sobre a contaminação tóxica ao redor da antiga base militar americana nas Filipinas. Na mostra Sessões Especiais, destaque para “A Destruição de Bernardet”, de Claudia Priscilla e Pedro Marques. O homenageado desta edição, Jean-Claude Bernardet, estará em BH. “Talvez, seja o maior crítico ainda vivo no Brasil”, frisa.

Mostra Queer e a Câmara
Novidade desta edição, a Mostra Queer e a Câmara reúne uma seleção de filmes nacionais e internacionais sobre o universo LGBT+ (o sinal representa qualquer outra pessoa que não seja coberta pela sigla). A sessão foi subdividida em dois períodos: 1968 a 1993 e 2013 a 2016.

Haverá ainda um seminário que visa explorar os cruzamentos possíveis entre cinema, teoria e ativismo queer. “A proposta é discutir com pessoas que estão lidando com essas questões diretamente”, afirma Paulo Maya. Entre os convidados, estão Pri Bertucci, que não se assume com gênero marcado, e Jota Mombaça transgênero ativista.

Programação completa no site forumdoc.org.br.

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